Dias melancólicos nos trazem lembranças melancólicas

Oras, acreditar que cada manhã começa com o nascer do sol é uma crença quase unânime. Difícil seria pensar que alguém acredita o contrário. Mas, conforme as manhãs nascem melancólicas, o nosso sentimento de melancolia cresce em nós a cada momento. E é difícil escapar deste sentimento.

E não era diferente num dia de céu cinzento, onde pelo menos uns 20 quilômetros me esperavam. Eu não estava bem, não estava motivada, e olhar para o céu, naquele estágio de azul acinzentado, coberto de nuvens, também não ajudava nem um pouco. Ameaçava chover e o medo da chuva talvez tenha me feito querer ficar em casa.

Se eu pudesse, continuaria deitada em minha cama, dormindo, ou talvez, jogando.

Mas, uma parte de um ditado reescrito é que, para nós, pobres mortais, “querer não é poder”, e então, o cabelo viu a escova, os dentes viram a escova de dentes e os pés se encontraram com a meia e o tênis, além do ombro sentir o peso da mochila pesada com os materiais que eram necessários. Nas mãos, o cartão de passagem, no rosto, a máscara lembrando que o inferno não acabou. E lá vamos nós.

Como sempre, acordar cedo nunca foi o problema, mas ônibus sim. E não seria diferente aqui, pois aquela maldita linha iria demorar o suficiente para que eu chegasse atrasada, tivesse que correr com o sapato desamarrado e perdesse o metrô, consequentemente, perdendo o segundo ônibus. O trânsito obviamente nunca iria ajudar. Eu já estava atrasada, e agora as coisas estavam cada vez piores. Sempre foi assim, não é?

Maldito caminho. Maldito lugar.

E a melancolia? A melancolia virava desespero. A melancolia virava lembrança.

Lembrança dos sábados onde eu fazia os 18 quilômetros, mais ou menos o mesmo caminho, onde eu socializava, onde eu de certo modo tinha algumas amizades. Sentada no banco do ônibus, mochila no colo, aquele peso incomodando nas coxas, e eu pensava em razões pelas quais as pessoas continuam em situações extremamente infelizes pelo senso de comunidade. Ah, o maldito senso de comunidade.

Eu estava sem relógio, mas sentia que já estava perto do horário em que devia estar no meu compromisso, e peguei o celular, liguei avisando que iria me atrasar. Ainda estava longe. Mas o pensamento… Ah! Esse estava ainda mais longe, como se possivelmente nunca fosse chegar.

Meu atraso foi de uns 10 ou 15 minutos, fisicamente.

Mentalmente, talvez, eu nem tenha chegado ainda.

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