Existem coisas que o dinheiro não compra

Eu podia fazer aquela piadinha, completando o título do post com “para todas as outras existem Mastercard”, mas acho que vocês já devem saber que os posts do NanoWrimo são uma coisa relativamente mais séria do que isso – ou não, depende do meu humor. Mas hoje eu devo dizer que estou bem séria e a história que vou contar também é séria. Já adianto: A moral é o título deste post. E se você discorda que existem coisas mais importantes que o dinheiro, é porque você nunca “perdeu sua vida”, de maneira figurativa, é claro. E eu espero que nunca perca.

Já namorei com um cara no passado. Com boa condição financeira (muito melhor que a minha, diga-se de passagem). Chegou a me pedir em casamento. Resolvemos que devíamos morar juntos. Para alguém como eu, que sempre teve mil e uma dificuldades nessa vida, era uma maneira de unir o útil ao agradável – era uma pessoa bacana (era o que demonstrava à primeira vista), vinha de uma família de classe média alta, com um padrão de vida melhor, e é óbvio que a gente sempre pensa: “Pelo menos dessa maneira eu vou dar pros meus filhos o que eu nunca pude ter”. Vejam bem, isso não sou eu tentando viver no mole, eu trabalhava nessa época. Tinha dois empregos. Mas o que eu ganhava não chegava nem perto de bancar o CONDOMÍNIO do apartamento em que essa pessoa em questão morava, muito menos todas as despesas de uma família. Vejam bem, é a triste saga de se trabalhar como professor no Brasil: Você dá aula os três turnos, chega em casa, planeja aula pros próximos dias, corrige prova, e quando o salário cai na conta… você ri porque mal dá pra se alimentar. Quem consegue vencer nessa profissão são poucos, notadamente os que tem doutorado e dão aula no ensino superior, concursados. Mas isso é assunto para outro post.

Ele, no entanto, faturava com UM projeto meu salário do mês inteiro. O que levava pra ele somente algumas horas – se muito complicado ou com algum cliente mais chato – um ou dois dias. Vejam a disparidade. O ponto é, naquele momento, eu, na minha ingenuidade, pensei. “Dinheiro me trará felicidade”, “Dinheiro me trará prosperidade”, “Dinheiro resolverá meus problemas”, “Dinheiro pode curar parte das minhas feridas”.

E eu não podia estar mais enganada.

Começar a morar junto foi um engano terrível. Não nos davámos bem sobre o mesmo teto. Eu mudei de emprego, e então estava trabalhando de 7 da manhã até 17 horas. Em pé. Correndo atrás de crianças. Era assistente de professora. Era um emprego no qual eu ganhava mais do que nos anteriores. Mas todos os dias, enquanto eu estava no ônibus de volta para casa, eu chorava enquanto olhava a “paisagem” da Avenida Paralela. Aquele choro silencioso e quase inexistente – nunca fui de ter muitas lágrimas mesmo – mas ele estava ali. Durei exatos um mês no emprego. Nunca saí de um emprego tão feliz quanto saí deste. Único dia que voltei para casa com a minha carta de demissão como se fosse minha carta de alforria. E, ao chegar em “casa”, fui recebida como? Com desdém. “Já perdeu o emprego? Mas você não sabe que é mais fácil conseguir um outro emprego estando empregada?”

Durante esse mês que eu trabalhei fora, as coisas começaram a se tornar insuportáveis em casa também. O vício em computador do cidadão em questão era fora dos limites – isso porque eu fui condicionada a minha vida inteira a acreditar que eu era viciada! – Ou seja, mesmo ficando em casa o dia inteiro e fazendo nada na maior parte do tempo, ele reclamava da louça suja, e quem precisava lavar quando chegava era eu. Não me levem a mal. Mas depois de dez horas em pé e de pelo menos umas 13 ou 14 fora de casa, a última coisa que você quer pensar é em… lavar louça quando você tem trabalho a ser feito pro dia seguinte, e ainda precisa acordar às 4 da manhã, especialmente se você não mora sozinha. (Tenham em mente: Eu chegava em casa por volta das 19~20 horas, dependendo do engarrafamento do dia)

Mas as coisas não pararam por aí. O barulho de determinado app do meu celular incomodava ele, porque lhe dizia que eu estava falando com a minha melhor amiga da época: alguém de quem ele tinha ciúmes sem parar. Eu é que não podia ter ciúmes dos amigos e amigas dele, ai de mim. Eu tinha que entender que ele tinha uma vida antes de me conhecer (mas eu não tinha! isso era inaceitável hahaha – entenderam onde mora o perigo?)

Eu não tinha mais ânimo para escrever. Não tinha mais ânimo para assistir séries. Eu estava morrendo por dentro. E para mim, o ponto final da morte foi quando eu precisei pedir permissão para ir num evento literário com a minha mãe, já que ele não queria ir, e a permissão me foi negada. É, é isso que vocês leram. A permissão foi negada. Eu estava tão cansada, que aquela relação já não fazia mais sentido para mim. Os presentes que ele me dava não faziam mais sentido para mim. Eu me sentia suja todas as vezes que tínhamos relações sexuais. Estar ao lado dele parou de me trazer conforto e felicidade, e só aumentava a tristeza que havia em mim.

Não há maneira de comprar sentimentos, assim como não se pode comprar felicidade. Não se pode comprar saúde ou bem estar. É impossível comprar bons momentos – eles precisam ser vividos. Até é possível usar dinheiro para que esses momentos se tornem realidade: uma viagem, um cruzeiro, um passeio, uma visita à Disney… mas as memórias anexadas aos bons momentos que você viveu, elas não podem ser compradas. É possível fazer uma viagem e não carregar nenhum bom momento com você dela. Já aconteceu comigo. É possível causar fiascos na tentativa de compra de felicidade.

Se você acha que a sua felicidade repousa num carro, num computador, num celular, num console, numa TV, num fone, numa marca, num bem específico… pense duas vezes. Se você acha que a sua vida vai automaticamente melhorar somente porque você tem boas condições de vida, pense duas vezes. Se você acha que, tendo o melhor plano de saúde, você poderá evitar doenças e viverá melhor… veja quantos milionários, ricos, famosos já morreram. Você realmente acha que eles não evitariam a morte se pudessem? Você realmente acha que eles não queriam ficar ainda mais ricos, em vida? Dinheiro não compra tudo. Existem coisas que você só pode ter, se conquistar. A confiança das pessoas, por exemplo, não pode ser comprada. A amizade verdadeira, não pode ser comprada. O amor, não pode ser comprado. Não importa quanto de dinheiro você tenha, algumas coisas nunca mudam. Aprenda que o único responsável pelo seu bem estar é você mesmo. O dinheiro até pode te ajudar em alguma coisa, pode te trazer algum conforto. Mas ele não pode comprar quem você é e muito menos uma vida perfeita. Isso quem tem que construir é você mesmo.

 

Essa história é parte do desafio do Nanowrimo 2020, e está sob a tag “Aconteceu Comigo”. Os fatos são reais, mas algumas informações foram modificadas para segurança dos envolvidos.
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