“A verdade nunca é de graça, mas às vezes ela está na promoção”

Eu admito: Eu não ia escrever sobre isso hoje. Na verdade, estava com um post já rascunhado quando coisas aconteceram e eu deletei todo o post para escrever sobre o que vou falar agora. O título do post não é meu, é de um personagem do Animal Crossing. Às vezes, os personagens de jogos são mais sábios que nós. Me pego pensando como cheguei neste ponto que estou hoje, comendo pães de queijo – minha comfort food –  e bebendo suco de uva, com um notebook no colo, escrevendo enquanto choro horrores.

“Não tinha nada mais bonito para você postar?”, alguns dirão. E eu respondo com a mais singela expressão de “Não” que eu conheço. O desafio é escrever todos os dias, e a série é “Aconteceu Comigo”. Quer algo melhor que um acontecimento do dia? Talvez, o post que eu apaguei já rascunhado fosse ter uma moral linda e edificante, diferente deste, mas eu não me importo. Não escrevo fábulas, nem escrevo para agradar a ninguém. Escrevo para mim mesma.

Então, falaremos sobre a promoção da verdade que eu encontrei esta semana: Sou uma pessoa insuportável. Não que eu não soubesse disso a esta altura – ora essa, eu tenho quase 30 anos, se nesse tempo todo eu não me conhecesse, seria até estranho, especialmente para uma pessoa que faz terapia – mas parece que sempre há um jeito de ser lembrada dos piores traços de personalidade que se carrega. A culpa é dos astros, canso de dizer, mas ninguém parece entender isso. A astrologia é pseudo-ciência, afinal. Talvez um dia acreditem que eu não tenho tanta culpa quanto acharam que eu tinha. Talvez seja tarde demais. Sou uma pessoa que também não merece o amor, especialmente da pessoa amada. Eu não vou citar nomes nem trocarei por segurança nem farei nada disso. Porque estamos sendo generalistas aqui. Ainda que fosse outra pessoa, eu continuaria não merecendo. Eu sinto falta de ser aquela pessoa brilhante que outrora eu fui em minha infância. Que aprendeu inglês sozinha, que se virou no espanhol sem ajuda de ninguém, que mexia em duzentos programas diferentes no computador e por incrível que pareça aprendia a mexer em todos e descobria um monte de coisas que as pessoas normalmente não sabiam. Que era prodígio em química, e chegou a cogitar um ensino superior nessa área. Que sempre sonhou com Direito, mas no fim, quis fazer a diferença através da educação… e não conseguiu.

As pessoas não gostam de mim, salvo talvez uma ou outra exceção. Sou incapaz de cativar alguém, como diz a Raposa de O Pequeno Príncipe. E como sou incapaz de cativar alguém, sou igual a todas as outras sete bilhões de pessoas nesse mundo. Se você leu esse livro, vai entender do que estou falando. Se você não leu, bem, fica aqui de recomendação um livro maravilhoso para sua leitura e compreensão posterior. O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. É um livro bem curtinho, não vai tomar muito do seu tempo, e vai te dar bases e fundamentos bem importantes para compreender uma frase que eu adoro, como “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

Se você que está lendo isso, ainda não conseguiu entender o sentido do post de hoje, peço minhas licenças para explicar de maneira mais clara, se é que sou capaz. Eu estou aqui, abrindo o meu coração e me julgando uma falha após ter crescido. Era melhor que eu tivesse permanecido eternamente na infância, onde eu era uma pessoa minimamente diferente. Mas a gente cresce e percebe que às vezes nem tudo são flores, nem todas as rosas desabrocharam, e nem todo o jardim foi regado da maneira correta. Às vezes faltou adubo. Às vezes faltou um solo mais propício. Às vezes não faltou nada, só a semente que não vingou da maneira correta, me entendem?

É difícil dizer isso, mas nessas horas, o maior Consolador que já existiu (O Espírito Santo, para quem não tem noção bíblica) me diz exatamente o que eu preciso ler. E está lá em Mateus 13:24-30:

Jesus lhes contou outra parábola, dizendo: “O Reino dos céus é como um homem que semeou boa semente em seu campo.
Mas enquanto todos dormiam, veio o seu inimigo e semeou o joio no meio do trigo e se foi.
Quando o trigo brotou e formou espigas, o joio também apareceu.
“Os servos do dono do campo dirigiram-se a ele e disseram: ‘O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio? ’
” ‘Um inimigo fez isso’, respondeu ele. “Os servos lhe perguntaram: ‘O senhor quer que vamos tirá-lo? ’
“Ele respondeu: ‘Não, porque, ao tirar o joio, vocês poderão arrancar com ele o trigo.
Deixem que cresçam juntos até à colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’ “.

As verdades aparecem sempre, e talvez eu seja esse joio que foi plantado no meio do trigo. E agora que estou crescendo, devo ser queimada em feixes antes que eu destrua toda boa obra e boa semente colocada junto a mim. Não posso manter absolutamente nenhuma esperança de ser salva. A verdade não vem de graça; ela vem com um alto preço: Normalmente, o preço é a culpa que se instala em nós por todos os momentos em que estamos pensando no assunto – e às vezes, quando não estamos, também. Mas às vezes é pior. Às vezes vem junto com a indiferença ou com situações embaraçantes perante pessoas que você simplesmente não esperava. E aí, o que dói mais? Não sei. Não faço nem mesmo ideia se ainda este post faz algum sentido para quem está lendo. Só sabemos que nada é de graça. Não existe almoço grátis, afinal. Falarei disso amanhã, com mais detalhes, mas já vou adiantando o fato de que “almoços grátis” são impossíveis. Você pode encontrar qualquer item em promoção, inclusive a verdade. Mas nunca vai encontrar alguém que lhe dê esta sabedoria de graça. As pessoas sempre cobram por seu serviço. Não acredite em determinadas gentilezas. O mundo é capitalista por uma razão.

Só há um vencedor. ABBA já nos disse isso há muitos anos, The winner takes it all, ou seja, o vencedor fica com tudo. Tudo que temos, tudo que somos, tudo pelo que lutamos durante anos. O vencedor recebe tudo de mão beijada porque ele é o vencedor, e a ele lhe foi dada a vitória e o direito aos espólios. Não existe uma razão pela qual este apropriamento seja inadequado. Por que ainda reclamamos? Devíamos parar e agradecer que o vencedor não pode tirar a nossa vida junto com tudo que mais nos importa. Afinal, assassinato ainda é crime.

 

 

Essa história é parte do desafio do Nanowrimo 2020, e está sob a tag “Aconteceu Comigo”.
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