O tempo do passado tá em outro tempo

Flashback – No Mundo das Fadas

Lily: É hoje o dia, então? (acordou, olhando para o seu calendário de sobreslaio, querendo confirmar algo que já sabia há muito tempo)

Narrador: Há algum tempo, era comum que todas as fadas fossem escolhidas para terem uma espécie de profissão. Haviam as fadas-madrinhas, as fadas que concediam desejos a qualquer um, as fadas encantadas, as fadas que cuidavam de outras fadas, e as que governavam o mundo das fadas. Cada fada era escolhida conforme suas habilidades. As fadas-madrinhas, por exemplo, tinham habilidades com crianças. As encantadas, com encantos e diversos tipos de magia. As cuidadoras, como o próprio nome indica, cuidavam das coisas. E as governantes, normalmente eram as que tinham a característica de liderança mais acentuada.

Lily: (penteou seus cabelos roxos calmamente, decorando seu cabelo com uma presilha de borboleta) Me pergunto de que tipo eu serei… (abriu a porta de casa, e, voando, se dirigiu ao local onde várias outras fadas de sua mesma idade esperavam)

Narrador: Havia uma fada para qual todas se curvaram em respeito. Sra. Aine DeLaFairy, a atual responsável pela administração da Escola de Fadas. Após terminarem todo o currículo, passavam por essa escolha antes de poderem se graduar. Afinal, era necessário que a fada em questão demonstrasse ter além da habilidade “teórica”, observada durante todo o período de estudo, ter a habilidade prática antes de poder receber o certificado de fada habilitada. Era ainda mais necessário para as cuidadoras e as fadas-madrinhas, as quais, sem licença, jamais poderiam exercer suas funções. Sra. DeLaFairy chamava cada uma cadas fadas, uma a uma, e lhe entregava uma missão. A fada em questão tinha vinte e quatro horas para retornar com a missão cumprida, ou declarar que não era capaz de cumprí-la. No segundo caso, se a fada demonstrasse uma segunda habilidade, seria testada nesta também; caso contrário, deveria fazer um ano suplementar na Escola de Fadas antes de tentar novamente o certificado de fada habilitada.

Atualmente

Aya: Lily? Lily? Você está bem?

Lily: (parada olhando para o nada como se recordasse de alguma coisa) Hã, sim.

Aya: Eu te perguntei que tipo de fada você era… e você não me respondeu coisa alguma…

Lily: Aya… É complicado… No Mundo das Fadas temos um sistema… Difícil…

Aya: Quando nos conhecemos você me disse para te chamar de fada-madrinha. Você… é uma fada-madrinha, Lily?

(silêncio)

Lily: Eu devia ser (se levantou abruptamente) Mas falhei duas vezes no teste da Escola de Fadas, e portanto, nunca pude ser fada-madrinha de nenhuma criança, não oficialmente. Quando eu conheci você, achei que era uma criança. Não queria que tivesse medo…

Aya: Você não passou? Mas é tão inteligente…

Lily: O nível de inteligencia necessário para se passar nos testes da Sra. DeLaFairy estão muito acima de minha capacidade []

Aya: Não diga isso, Lily. Por que não tentou de novo?

Lily: A cada nova tentativa, você precisa cursar mais uma vez um ano preparatório na Escola de Fadas. É como se eles tentassem te ensinar todas as vezes a mesma coisa. Mas os testes dela não tem teoria, somente prática, Aya… Na primeira vez fui enviada para ser co-madrinha de um garoto mimado por 24 horas. A ideia era ver se eu conseguia não fazer o garoto chorar, mas ao mesmo tempo, não ceder a algum pedido que violasse as regras mágicas. Falhei. A segunda vez, eu deveria cuidar de uma garotinha até que adormecesse, sem ser vista. Às vezes, temos que agir sem sermos reconhecidas… Mas não consegui, também… (abaixou a cabeça) Então, não sou uma fada certificada para “trabalhar”. Bom, sobra mais tempo para mim, é verdade, mas…

Aya: Mas…?

Lily: Não, vamos falar de outra coisa! Isso já passou e não importa mais! (sorriu) Podemos ir ver a Annie, o que acha? Acredito que ela vá ficar feliz em te ver num dia em que ela não está te esperando para mais uma daquelas lições intermináveis

Aya: As lições da Annie são até bem didáticas, Lily!

Lily: Eu sei, eu sei, eu só estava brincando! Vamos lá?

Narradora: Mas Aya ainda levava em sua mente as palavras que Lily lhe dissera. A garota lhe parecia uma excelente guardiã, e ela sequer era humana… Não conseguia ver porque a garota não conseguira passar num teste para ser guardiã de humanos… Até porque Lily era tão sábia, inteligente e divertida que qualquer um iria querer tê-la como fada madrinha. Como alguém podia expulsá-la? Parecia algo tão maldoso e… ruim de ser feito… Se pudesse, convenceria Lily a fazer mais um ano, a tentar o teste novamente. Mas a garota já parecia decidida. Parecia conformada com sua vida. É claro, aquele “mas”, deixado ali, indicou à Aya, que era experiente nisso, por já ter viajado por diversas eras, que ela sentia falta de algo. Ainda assim, ela parecia conformada o suficiente para não falar daquilo, e não querer sofrer mais pelo passado. Sofrer pelo passado. Se perguntava o que mais havia se passado nas vidas das pessoas que agora tinha conhecido. Aya, que estava acostumada a viajar no tempo e viver as situações, e corrigir os acontecimentos, e ajudar a quem quer que fosse, por um instante se sentiu incapaz de ajudar. Seu artefato quebrado, que nem saberia se funcionaria pelas bandas desta dimensão em que estava… Ah, como era difícil! Saber que tinha conhecimento suficiente para consertar tudo com uma simples viagem e não poder realizá-la… Mas percebeu que estava divagando demais e que não havia respondido ainda. Então, deixou sua corrente de pensamentos para trás, e sorriu com o maior dos sorrisos que uma garota com aparência de pré-adolescente poderia dar, antes de dizer um grande e animado “Vamos!”, e seguir com Lily em busca de Annie.

Eu tenho a receita, se chama “magia negra”

Narradora: Aya estava acompanhando Annie, durante seu trabalho de bruxa lunar. A viajante do tempo agora percebia que era bem complicado manter a paz em Lightown e ao mesmo tempo, conceder as diversas coisas que as pessoas a pediam. Eram poções mágicas, feitiços, tiragem de sorte, runas, leitura de futuro… Num dos poucos momentos de paz, Aya e Annie estavam lanchando. Afinal, se manter alimentadas é uma coisa importante.

Annie: Viu como não é fácil? Ser uma bruxa exige muita dedicação, Aya. E muita responsabilidade com o uso de seus poderes, também! Imagine se eu entrego uma poção de transformação para aquela louca que acabou de passar por aqui? Ou para a Jen?

Aya riu.

Annie: Estou falando sério! Já imaginou a Jen se passando por outra pessoa? Seria uma catástrofe! Você a conheceu, brevemente, naquele dia, mas a conheceu!

Aya: Bem… Ela pareceu estranha, realmente… (deu uma mordida no sanduíche) …Como você consegue ser amiga dela?

Annie: (rindo) Ela é assim com quem ela não conhece, e um pouco implicante por natureza, mas… Ela é uma boa pessoa. É a única que sabe que sou uma bruxa lunar… É uma humana com Visão… Consegue ver criaturas mágicas… É bem raro, entende?

Aya: Uhum!

Annie: Nessa dimensão, Aya, tem um véu que esconde as criaturas mágicas para que elas coexistam com os humanos… Como é na sua dimensão?

Aya: A gente só finge que é humano… Já que temos formas humanóides, os viajantes do tempo… Existem alguns monstros, mas eles normalmente são subaquáticos… Não se tem muitos relatos de humanos que encontraram com eles e sobrevive—

Narradora: Aya falava enquanto foi interrompida por um estrondo. Logo, na sequência, uma pessoa apareceu do clarão do relâmpago. Ria alto, com uma risada macabra e assustadora. Annie tomou a frente de Aya imediatamente, como se soubesse de quem se tratava.

Annie: O que quer aqui?

Bell: ¡BUENAS NOCHES, CHICAS!

Annie: (suspirou fundo) O que quer, Bell?

Bell: Então essa é sua mais nova aprendiz, Annie…? É verdade isso? Agora você anda treinando novas bruxas sem a permissão do Conselho?

Annie: Você nem sequer é uma bruxa lunar, Bell, o que sabe sobre o Conselho das Bruxas Lunares?

Bell: Mais do que você, pelo visto, querida (riu assustadoramente) Está bem desatualizada, hein?

Annie: Bell, por favor, vá embora. Se concentre em honrar… quem você honrava mesmo? Hécate? Kali?

Bell: (revirou os olhos) Não vou embora, quero saber sobre sua aprendiz.

Annie: Não tem absolutamente nada que você precise saber sobre ela (pegou sua varinha em cima da mesa onde havia posto suas runas e poções que mantinha em estoque) oierolf otium mes zap me exied son e oiev edno arap etlov!!!!

Bell: (ria mais alto) Acha que essa magiazinha de quinta categoria vai me atacar, querida? Eu treinei por anos para ser muito melhor que você. Agora… me conte sobre sua aprendiz…

Annie: oierolf mes auL ad emon me oiev êcov edno rop aroga etlov uobaca aicnêicap ahnim aroga!!!!

Narradora: Assim como surgiu, um relâmpago levou a outra bruxa embora. Annie respirou aliviada, tirando Aya de trás de si.

Annie: Desculpe-me por isso.

Aya: Quem era ela?

Annie: É uma longa história, Aya… Bell foi uma colega minha na Escola das Bruxas. Veja bem, as bruxas que descobrem seu dom logo quando crianças são enviadas para uma escola. Meio como a Escola de Gardênia, das Winx, sabe? Claro, resguardando o fato de que as Winx são fadas, e não bruxas. Nós aprendemos etiqueta mágica, algumas coisas sobre magia, conjuração, feitiços, língua mágica, misticismo… E de lá, cada uma descobre sua vocação, ou seja, de onde vem seus poderes. Algumas bruxas tem poderes vindos da Lua, que é meu caso. Outras, do Sol – Essas são bem raras, e normalmente viajam muito porque não podem ficar por muito tempo num lugar só, afinal, é difícil se camuflar no dia… – Bruxas da natureza… Como é o caso de várias amigas minhas que fiz nessa escola… E… Bruxas que não despertaram nenhum poder específico além do dom regular de magia… (suspirou pesadamente antes de continuar) Este último grupo normalmente ainda consegue performar magia, mas… Bem, normalmente… Elas se ligam à algum deus ou deusa ou enfim… Para ter poderes mais fortes. Não são pessoas necessariamente más, algumas só honram a quem lhe abraçou como filha… Mas existe o caso de pessoas como a Bell… Que se ligaram para ter mais poder. Entende… onde quero chegar?

Aya: Acho que sim… Então ela é uma bruxa má?

Annie: Bem, ela só não gosta de mim (riu) Mas só precisamos ignorá-la. Ela late mais que morde, afinal de contas.

Aya e Annie riem.

Narradora: Por trás das sombras, Bell continuava observando as duas. Ela ainda queria explicações sobre aquele momento de aprendiz-aluna que estava acontecendo ali, especialmente sem o Conselho saber. Seria tão divertido contactar superiores sobre aquilo, afinal de contas… Não é mesmo? Por que ela não faria isso?

Bell: Vocês podem rir hoje, mas amanhã irão chorar (risada maléfica)

Se um dia a saudade trouxer solidão, um vazio no seu coração, vai te fazer entender, não se deve dizer “nunca mais”.

Edit: A autora pede desculpas desde já pelo post bilíngue.

 

E eu e os títulos de música, não é mesmo? Mas temos razão para isso. Quando o silêncio nos cala, é importante fazer algo que nos dê voz. Uma dessas coisas é cantar. Não há vários outros destinos, às vezes nos pegamos sentindo saudade. E por isso é importante aprender que a palavra “nunca” é forte demais. Às vezes, mesmo quando não queremos, nos pegamos perdidas pensando em coisas, momentos, situações, pessoas. O que poderíamos ter feito de diferente. O que podíamos ter feito para que elas permanecessem em nossa vida. E é tão, mas tão difícil aceitar que o outro se vá… Que podemos dizer que às vezes é preciso sepultar essa pessoa de nossas vidas. E isso é tão doloroso, porque isso é como se fosse um “nunca mais”, também. De maneira diferente, mas é um nunca mais. Suspiro hoje para escrever sobre isso, porque foi o primeiro tema que me veio a mente. Abri a Steam, e vi aquele nick familiar. Não nos falamos mais. Ela me bloqueou de quase todas as redes, talvez só tenha me sobrado essa. Preciso me fazer acreditar todos os dias que ela morreu, para superar a falta. É difícil? Sim. Talvez em algum momento dessa vida eu consiga olhar para trás, ver todo o mal que essa pessoa me fez e não sentir esse vazio? Sim. Mas eu sei que esse dia talvez não seja hoje, talvez não seja essa semana, nem esse mês, nem esse ano, talvez não seja essa década! Talvez eu tenha que lidar com sentimentos, provações, e complicações que são resultados de conversas que não aconteceram e coisas que não foram discutidas. Eu sei que talvez esse post nunca chegue até a pessoa em questão, e eu sei que ela pouco se lixa pra mim hoje em dia, está seguindo a vida dela da maneira que bem entende. Eu sei. Tenho essa certeza de que meu sentimento não é recíproco e que sofro em vão, mas não podemos controlar o que sentimos.

What has passed, passed, but still I can’t move on. Sometimes it’s hard but things must be done. One of them is… we should acknowledge the fact we might’ve done wrong. And sometimes, even when we’re not wrong, we should be non-judgemental, or we just act differently. But what has passed, passed, and we can’t change it anymore, so, what can we do, other than let the tears flow, apologise and move on? Maybe there’s a way but we don’t know. Maybe God has an answer, and for that I pray every single day.

In fact, there are only two answers I pray to God for, “what did I do wrong to her?” and “what am I doing wrong to L?”. It seems I’m always guilty of something and I’m always the person to blame for. And that has caused me intense pain and intense suffering. Because while I do know part of my mistakes – hey, I’m a human being and I do commit them all the time! – I can’t seem to understand why am I not doing the right thing after so many lessons. It’s like I never learn it. Why don’t I ever learn it? Why does it seem like my apologises aren’t even real to begin with? [] Why does it seem like I’m faking something I’m not to gain something else “back”, like it’s a trophy or something, why does it feel like I don’t feel anything? Am I that cold? What am I doing wrong? WHAT AM I DOING WRONG?

WHAT

AM

I

DOING

WRONG?

I keep on repeating these words in vain, waiting for an answer because it seems like I’m in despair for something that isn’t going to be given to me in any chance, by any means. And that fact I’ve been losing the bonds I’ve worked so hard on creating over the years is driving me mad. I look around and I see even less people each day passing by me. I apologise and people look at me like I’m a monster. T probably hates me by now, R, too. Who’s left? Who’s next? I wonder if by the end of my days someone will stick closer to me even if it’s just to say goodbye, you’ll be missed.

Mainly because as I said some posts before, I didn’t captivate anyone; I’m equal to every other 7 billion people in this world. Secondly, because “when push comes to shove you do what you gotta do”, ain’t that correct? Sometimes the best intentions ever will always be frowned upon because they’re not the decisions people intended you to do. Maybe your personality is at fault. Maybe mine is. Maybe the fault isn’t even in the stars. But there’s nothing to stop someone else to think it is or it is not.

Why am I telling you all of this? Because maybe I won’t be here tomorrow, and if I’m not I wanna, at least, know somewhere if people cared to find they could find that I’m truly sorry even though I might’ve not had time to show it.

I truly apologise this time and I expect not to make mistakes like the ones I should’ve learned in the past again today or in the future, I’m really sorry.

 

 

 

Essa história é parte do desafio do Nanowrimo 2020, e está sob a tag “Aconteceu Comigo”. Os fatos são reais, mas algumas informações foram modificadas para segurança dos envolvidos.

Annie, cante!

(Esta história é um spin-off)

Na noite de lua cheia, as bruxas lunares resolvem nadar como uma sereia. Cada uma com seu dom, se reunem no mesmo tom. Umas cantam, outras dançam, outras capturam a lua em sua maravilhosa luz-reflexão. É a dança que importa quando todas batem a porta.

Narradora: Aya estava observando o primeiro dia da lua cheia, junto com Lily. Annie celebrava seus poderes junto com outras bruxas lunares. Era uma cena bonita de se ver, porque acontecia apenas uma vez por mês, várias bruxas reunidas, todas usando seus dons para capturar o poder da lua em suas vidas e, ainda mais, honrar a quem lhe dava seus poderes.

Aya: Então, isso acontece todo mês, Lily?

Lily: Sim, Aya. Devo dizer que já fui convidada algumas vezes, mas esta é a primeira vez que vejo a celebração com tantas bruxas lunares juntas!

Aya: Elas parecem entretidas, com bastante ânimo para dançar e cantar, []nunca tinha visto um grupo tão animado como esse, desde os fogos de artifício da virada do milênio! (riu)

Lily: Nossa! Às vezes eu esqueço que você tem mais de 12 anos, Aya… (riu também)

Aya: Não vou comentar sobre isso (fingiu estar chateada e fez biquinho)

Na noite de lua cheia, as bruxas lunares resolvem nadar como uma sereia. Cantam, se balançam, capturam a lua em sua dança. Brincam, jogam, enfeitiçam, criam um laço em magia. Às vezes há participação, às vezes, só reação. Todas nós somos bruxas, acreditamos na magia que tanto nos puxa.[]

Narradora: Annie estava dançando e cantando e tudo que mais gostava durante os rituais lunares. Era muito bonito e as rimas eram feita sob medida para cada ocasião. Todos os meses, da mesma maneira, durante a lua cheia. Aya a cada momento ficava mais encantada com cada coisa visualizada.

Vamos todos nesse canto. Agora é nosso momento. Que desça o grande manto. Da Mãe Lua que nos dá tanto.

(Após o ritual)

Annie: E aí, o que acharam? (sorriu, se dirigindo à Aya e Lily)

Aya: Muito bonito, Annie!

Lily: Nossa, como sempre, impressionante! Maravilhosos os cânticos!

Annie: Ainda bem que gostaram. Querem pão de queijo?

Aya e Lily: Sim!!

Narradora: E as três, então, foram comer pão de queijo depois do ritual lunar. Annie ainda cantou mais músicas para Aya, que se divertia enquanto comia pão de queijo e bebia suco na companhia de suas grandes amigas que estavam consigo. E aquela noite terminou na maior diversão possível.

Annie: Não se precisa de mais nada quando se tem amigas como vocês!

A noite cai, o frio desce… Não, agora é Sandy e Júnior!

Narradora: Annie estava, como sempre, em seu posto lunar, de onde só saía para emergências da pequena cidade de Lightown. Lily e Aya haviam viajado do Mundo das Fadas até esta cidadezinha só para encontrar com a garota, que era conhecida por seus poderes bruxo-lunares. Era importante salientar que Annie nunca cobrou um centavo para fazer suas magias. Tudo era de graça e por um bem maior. Aya estava temerosa, no entanto, de não conseguir recuperar o poder em seu artefato, porque era muito complexo consertar um relógio do tempo que se quebrou. Sabia disso. Acreditava no poder da magia, e no poder de todas as outras coisas do universo, mas sabia o quão complexa e difícil era a visão de uma pessoa que não trabalhava com os poderes de Senhor do Tempo. Aya era uma daquelas pessoas complexas, que tinham a visão de uma vida imensamente longa, conhecendo passado, presente e futuro de todas as coisas. E às vezes aquele conhecimento que detinha era complicado demais para lidar. Era só uma criança, afinal. Uma criança que nunca cresceria.

Lily: Annie! Minha cara amiga! Como você está esta noite?

Annie: Bem… A que devo a honra da sua visit— Oh, você não está sozinha hoje! Quem é esta adorável garotinha?

Lily: O nome dela é Aya. Estamos aqui para ver se você consegue ajudá-la.

Aya: (trêmula, remove o artefato de dentro de sua vestimenta, mostrando um relógio do tempo) E-Ele quebrou…

Annie: (surpresa) Minha cara! Onde conseguiu algo tão valioso assim?

Aya: É passado de pai para filho, em minha família… Mas como minha mãe não teve meninos… Bem, ficou comigo. Eu sou uma viajante do tempo. Mas ele está quebrado… Não consigo alterar o tempo em que estou, e portanto não consigo voltar para casa

Annie: (pensativa por um momento)

Lily: (olha para Annie, incerta do que ela diria)

Annie: Aya… (suspirou pesadamente) Você… não só viajou no tempo, minha cara…

Aya: (a olha com um olhar de quem não estava entendendo absolutamente nada) C-Como assim?

Annie: Você está em outra dimensão, Aya. (falou, tentando manter a voz mais doce possível, como se não quisesse assustar a criança) Consertar seu relógio do tempo infelizmente não fará você voltar para casa… É preciso uma magia mais poderosa que isso.

Lily: (para si mesmo) Eu bem que desconfiava…

Aya: Então… Fui alvo de uma interferência mágica?

Annie: Tudo indica que sim. Não sei se meus poderes são suficientes para te levar de volta à sua dimensão. Pode ser complicado, e perigoso. Eu recomendaria que aguardasse até que eu pudesse, bem, estudar seu caso.

Aya: Uma bruxa ainda estuda?!

Lily: (riu) Aqui, todos nós ainda estudamos, Aya… Precisamos nos aperfeiçoar sempre. O universo está em constante movimento nesta dimensão.

Annie: Exatamente. A Lily disse tudo. Se queremos conhecer mais sobre nós, mais sobre as coisas, mais sobre onde vivemos… precisamos estudar diariamente. É como se… só existisse isto a ser feito. Parece monótono, mas o conhecimento é onde realmente nós nos solidificamos como seres mágicos.

Aya: Mas sobre o que vocês estudam? Digo, na minha dimensão, nós passamos anos estudando sobre o Tempo para ganhar nosso certificado… E depois podemos viajar por aí. E então aprendemos na prática, vivenciando novas culturas e coisas do tipo… Vocês… como vocês fazem isso?

Annie: No caso da bruxaria lunar, existem livros específicos (riu) Eles ensinam a lidarmos com runas, com feitiços, poções, em como capturar o poder da lua para rituais que criamos. Há muita coisa para se aprender. É lógico que eu sei como manusear o básico, ou não seria uma bruxa lunar… Mas estou muito longe de saber todos os feitiços de cor, ou de conhecer todas as palavras mágicas. Não decoramos essas coisas, mantemos tudo anotado. E além dos livros, existem os d—-

Jennifer: Annie, eu acho que você está contando muito sobre o seu segredo para esta desconhecida!

Annie: Ah, Jen! Você está aqui! Não se preocupe, ela também é uma criatura mágica. Consigo sentir seu poder mágico. Só não pertence à essa dimensão. O meu segredo só precisa ficar oculto dos humanos blindados pelo véu. Você sabe disso. Inclusive, você é uma humana que ganhou a Visão. E portanto, é diferente das outras humanas que continuam blindadas.

(Jennifer tenta interromper, mas Annie não permite)

Annie: Por favor, não é hora para você vir me dar lição de moral sobre como eu devo lidar com meus próprios poderes e segredos, Jen. Você é minha melhor amiga, mas isso é problema meu. Como eu ia falando… Aya, além dos livros, existem os diários. Estes passam de mestre para aprendiz.

Aya: E quem pode ser aprendiz de bruxa?

Annie: Bem… (pensou longamente antes de começar a explicar) …Na realidade, nada impede uma pessoa de ser aprendiz de bruxa, a menos que, obviamente, não seja um ser do sexo feminino ou seja um ser blindado. Homens não fazem parte deste ritual a menos que sejam carregados com a marca de nascença… Nem toda bruxa é lunar, no entanto. Depende de qual astro ou Deusa a escolhe. Isso é feito num ritual de consagração.

Aya: Nossa! Parece interessante! Parece até algo meio religioso…

Annie: É… e não é ao mesmo tempo. Pense nisso como uma Sociedade Secreta, não como uma religião… Não gostamos muito de pensar no nosso trabalho de salvar as pessoas como religião. Ou desta forma, não salvaríamos ninguém diferente de nós.

Lily: Profundo, Annie… Eu não esperava que você tivesse palavras tão sábias, minha cara.

Jennifer: Tsc. (olha pra Lily com um pouco de desdém) A Annie tem essa mania de querer demonstrar conhecimento e falar muito às vezes. Os monólogos dela nunca acabam.

Aya: Não seja tão desrespeitosa!

Annie: JEN! (levemente irritada) Por… gentileza… (começou a falar entre os dentes) Você… poderia… parar… com… isso?

Lily: (se vira para Aya, e cochicha) Acho melhor nos afastarmos um pouco. A Annie está ficando nervosa. A Jennifer é um pouco pirracenta às vezes.

Aya: (cochichando de volta) Nossa, um pouco?! Eu totalmente detestei essa garota!

Lily: (saindo da visão de Jennifer e Annie, segurando Aya pela mão) Mas você parece bem interessada na magia…

Aya: (caminhando saltitante) Bem, já que estou presa nessa dimensão, me parece interessante aprender algo novo! Meus conhecimentos atuais não servem de nada sem meu relógio! O que eu poderia fazer, então? Aprender algo novo! A Annie parece uma pessoa legal, talvez ela aceite que eu seja aprendiz dela! O que você acha, Lily? Acha que ela toparia? Acha que ela gostaria de alguém aprendendo coisas junto com ela?

Lily: Bem, só me preocupo porque você tem uma aparência de criança… Talvez isso não seja um problema na dimensão dos Senhores do Tempo, mas definitivamente, isso é um problema aqui. Não é permitido trabalhar com menores, veja bem…

Aya: Mas eu tenho mais de novecentos anos! (riu) E eu tenho como provar isso! (tira do bolso uma carteirinha reluzente, que projeta todas as informações da vida de Aya, inclusive sua idade)

Lily: (impressionada) Nossa, você nunca me mostrou isso!

Aya: Bem, você nunca perguntou se eu tinha algo assim (riu) Na dimensão dos Senhores do Tempo, só precisamos mostrar nossa licença, quando perguntados!

Lily: Faz sentido. No mundo dos humanos, só precisam mostrar documento quando solicitados também. As fadas não precisam de vários documentos, no entanto. O Mundo das Fadas é um lugar praticamente seguro, não precisamos andar por aí nos identificando… Todo mundo consegue identificar os tipos de fada por suas cores e seus trajes, ou simplesmente pela maneira com que trabalham. Ah sim, as fadas trabalham.

Aya: É… Eu lembro de uma vez ter visitado uma garota que acreditava muito na Sininho… (sentou numa pedra, olhando Lily e Jennifer ainda discutindo à distância) …ela tinha um problema muito grande… foi difícil resolver sem criar um paradoxo temporal. Acho que foi a aventura mais difícil que eu já participei até hoje!

Lily: Sério? No que consistiu? (sentou-se no gramado, ao lado da garota, olhado para o céu estrelado, que de longe parecia tão bonito. Queria bater as asas um pouco e voar ao redor daquele céu e talvez tocar as estrelas, mas naquele momento, seria irresponsabilidade sua deixar a pequena Aya sozinha – mesmo que ela tivesse mais de novecentos anos.

Aya: Foi uma das minhas primeiras aventuras sozinha (sorriu) A garota tinha perdido sua boneca da Sininho, que ela acreditava que virava a verdadeira Sininho todas as noites. Fomos convocados a alterar o passado para que ela não esquecesse de sua boneca… Porém, tudo precisaria ser feito sem que ela lembrasse de nós, Senhores do Tempo. É meio difícil ser invisível quando se tem o cabelo rosa!

Lily: Isso realmente parece ser uma dificuldade, Aya… Como você resolveu?

Aya: Comprei uma peruca (riu)

(Lily e Aya riram juntas por alguns minutos, embaixo das estrelas, até que Aya apontou para o céu, cortando o momento)

Aya: É aquilo que chamam de estrela cadente?

Lily: (olhando para o local que Lily apontou) Sim! Mas não se aponta estrelas, Aya. É falta de educação. Agora só feche os olhos e faça um pedido. Sempre que ver uma estrela cadente, faça um pedido e ele se realizará (sorriu)

Aya: (em silêncio) Desejo estar para sempre ao seu lado, Lily.

 

Continua no próximo episódio

Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro… Ei, pera, essa é a música do Djavan!

Flashback

Narradora: Era um dia normal de inverno. O sol brilhava, mas não aquecia, e o frio incomodava a pequena Aya. Cabelos rosados jogados em frente ao seu rosto, e lágrimas derramando-se por entre suas leves mãos. A garotinha cantava uma pequena canção entre soluços.

Aya: P-Pegue uma es…estrela… coloque-a no seu b-bolso… n-nunca deixe-a apagar…

Lily: Minha jovem… Você está perdida?

Aya: (levantando o olhar para a voz) Hã? É… Receio que s-sim…

Lily: Você não parece ser daqui… (apontou pros trajes da garota, levemente) …Como exatamente chegou aqui?

Aya: (se manteve em silêncio)

Lily: …Garota? Você está bem? (se abaixou até estar no mesmo tamanho de Aya) Você se perdeu?

Aya: E-eu… bem… eu… n-na verdade eu sou uma v-viajante do tempo… Mas… eu acho que me perdi…

Lily: Viajante do tempo? Meu Deus, mas… Então, você é de outra época?

Aya: S-Sim (ainda meio chorosa) Ainda não sei como voltar… E aqui está frio…

Lily: Se você quiser, podemos ir para minha casa. Ao menos, você pode tomar um chocolate quente e se esquentar.

Aya: (olhando meio desconfiada) V-vou aceitar, moça…

Lily: Me chame de Lily. Eu sou uma fada. Se quiser, pode me chamar de fada-madrinha também.

 

Atualmente

 

Narradora: A primavera havia chegado e não existia nada nem ninguém mais feliz que Aya, por finalmente ver da janela da pequena casinha de Lily, as primeiras flores desabrocharem. Era lindo o jardim da casa de Lily, afinal de contas, fadas sempre gostaram de viver em meio a natureza. Era um dia quentinho e tranquilo.

Aya: (saindo da casa, com um livro nas mãos, se senta num tronco de árvore, observando as borboletas ao redor das flores do jardim) Ah… Isso é tão bonito… Me lembra o quanto sinto falta de casa…

Lily: Sabe, talvez nós possamos sempre consultar magos e sábios para saber se algum deles sabe como você pode voltar para casa, Aya…

Aya: Não sei… Eu deveria conseguir viajar no tempo somente com os meus poderes, mas o artefato… Acredito que ele tenha realmente quebrado. Não sabemos como consertar…

Lily: Eu conheço uma bruxa lunar… Talvez ela possa nos ajudar esta noite.

Aya: Você acha que ela seria capaz, Lily?

Lily: Ela é capaz de muitas coisas, Aya… (pensando) Mas… Se você se for, então, ficarei sozinha novamente.

Aya: (abraça Lily carinhosamente) Sinto que tenho um trabalho a fazer nesta era, e por isso estou presa aqui. Mas gostaria de recuperar o poder de viajar através do tempo. Sabe, sinto falta de ver as coisas, os eventos do mundo, de impedir catástrofes… Sinto falta de fazer o meu poder ressoar mais uma vez da maneira que era antes.

Lily: (a abraçando também) E eu já disse, como sua fada-madrinha, eu pretendo te ajudar a conseguir recuperar tudo isso. Nós vamos conseguir (sorri) Não há nada impossível, Aya. Nada.

 

Narradora: E desta maneira, Lily e Aya resolveram buscar a ajuda de Annie, a bruxa lunar para recuperar o poder do artefato quebrado de Aya, e permitir que ela continuasse a viajar pelo tempo.

 

Continua no próximo episódio.

When did you realise that you’ll never be free?*

É estranho começar um post usando uma frase do antigo grupo da Katharine Blake, o Miranda Sex Garden. Estranho porque a grande maioria das letras do MSG tem esse tom melódico-depressivo, e estranho também porque não tenho o hábito de dar títulos em inglês aos meus posts – Afinal, acessibilidade é tudo e eu estou escrevendo em português, não é mesmo? – Mas hoje é um dia especial. Hoje, vamos refletir um pouco. Vou trabalhar na reflexão baseada em coisas que aconteceram comigo. Talvez mencione uma ou duas, bem de leve. Mas, já vou soltando uma bomba: a liberdade é uma ilusão.

Mas meu Deus, Ayumi, do que você está falando? Estou falando que existe todo um mito de que em algum momento de nossas vidas, seremos livres. Quando somos crianças, acreditamos que ao completar a maioridade, seremos livres. Quando chegamos nesta maioridade, pensamos que quando tivermos dinheiro suficiente para sair de casa e vivermos por nós mesmos, seremos livres. Quando saímos de casa, pensamos que seremos livres quando juntarmos o suficiente para não mais trabalharmos. Quando não mais trabalhamos, pensamos que seremos livres, mas aí, já estamos cansados, fragilizados, talvez com netos, talvez em necessidade de outras coisas… É um ciclo sem fim. O ciclo de que, em algum momento de sua vida, o ser humano será livre para fazer o que quiser, sem que haja algum impedimento. Sempre faltará algo para a felicidade plena enquanto estivermos nesse mundo. Tudo o que você possa buscar, pode ser retirado de você. Tudo o que você pode fazer hoje, talvez não possa ser repetido amanhã. Se a vida é uma roda que gira e nunca para, por que acreditamos que ela pararia somente para que pudéssemos fazer o que queremos?

A realidade é que a liberdade é uma ilusão criada para que você continue preso, acreditando que dias melhores virão. Espere, eu não estou dizendo que dias melhores não virão. Não é isso. É só que, não importa o quão bom o dia seja, nós sempre esperamos que amanhã seja melhor. Para quem conheceu o Nemuritai alguns dias atrás, sabia que o subtítulo dele era “Ashita, tenki ni naare!” (Amanhã será um dia bom). Por que eu troquei? Porque infelizmente precisamos lidar com o realismo. Você nunca será totalmente livre, porque sempre haverá alguém que te olhará de maneira torta e te julgará pela roupa que você veste, pelo jeito que anda, pela maquiagem que usa (ou deixa de usar). E por mais que você seja desconstruído, em algum momento, em algum dia, basta um momento de fraqueza para que aquilo te atinja e você se pergunte “Será que eu devo agir mesmo dessa maneira, ou vestir realmente esta roupa, ou usar realmente este estilo de maquiagem?”. Você nunca vai agir totalmente independente das outras pessoas, porque de algum modo, o fato de vivermos em comunidade nos barra de agir feito loucos – estamos sempre conscientes do que o outro, de algum modo, pensa ou fala de nós. E quando não estamos conscientes, queremos estar.

Sempre estamos subservientes à alguém. Você não é livre, porque você precisa trabalhar para manter o seu sustento. Você não pode acordar um dia e decidir ficar em casa. Você também não pode ir para o trabalho vestido da maneira que você quiser. Adultos não são mais livres que crianças em nada. Ah, quer um exemplo? Você, adulto, não pode ser visto brincando com brinquedos infantis (a menos que seja pai/mãe de uma criança pequena), porque senão… PRE-PA-RA pro julgamento. A vida é assim, é um intenso quebra-cabeça para construir, mas ai de você se for pego construindo um quebra-cabeça da Barbie aos 35 anos. Por isso hoje, as empresas relançam versões “adultas” de brinquedos nostálgicos. É livro de colorir anti-estresse (por que não pode ser só livro de colorir? Porque livro de colorir é infantil!), é adulto fazendo receita de slime… Por que não podemos só ser livres e fazermos o que quisermos sem nos preocuparmos com a idade? Afinal, aquele seu hobby de colorir, de escrever, de ouvir música… ele não vai sumir só porque você cresceu. No máximo, ele vai se transformar. Mas não é normal alguém ouvir que uma garota de quase 30 anos, por exemplo, é uma Nintendista ferrenha, muito fã da série Harvest Moon/Story of Seasons e que gastaria dinheiro com isso. Mas ué, uma garota de 30 anos não é livre? Um garoto não poderia ter uma coleção de carros ou de brinquedos, ou do que seja? Mas a verdade é que a sociedade não permite essa liberdade nunca. Você sempre será julgado por alguém. Mesmo que o julgamento seja porque você gosta de um time específico de futebol, ou porque você gosta de determinada série ou de um gênero de filmes ou o que quer que seja. Então, por mais que pareça ser algo exclusivo de fandoms, a verdade é que sempre haverá alguém a quem você deverá prestar contas. Seja na sua igreja, seja no seu trabalho, seja na sua casa, seja com seus pais, com seus amigos, com seu parceiro, com quem quer que seja. Nós não nos permitimos ser completamente livres devido à essa subserviência. E essa subserviência continua por boa parte de nossa vida, talvez por toda ela. Somos subservientes ao nosso governo, à nossa Constituição, às nossas leis, inclusive à nossa própria moral. Enquanto, claramente, algumas dessas subserviências nos servem para poder viver em comunidade sem que haja deturpação da chamada ordem pública, algumas delas só existem para nos frearmos e nos impedirmos. E isso é algo estrutural. Precisamos disso, ou toda nossa sociedade se bagunça.

O trem da nossa vida passa em diversas estações. E, em cada uma delas, há um funcionário preparado para lhe dizer algo baseado em sua aparência, seu modo de vestir, de agir, de ser. Isso acontece, quer você queira, quer você não queira. Não há um modo de parar isso, não há um modo de frear, ou barrar os funcionários da estação de entrarem no trem. Ou de que o trem pare e pegue outros passageiros, iguais a você. Você até pode pensar que está livre para fazer o que quiser, mas, tente estender sua corrente paramuito além do que ela te permite ir. E aí, *quando você se deu conta de que nunca será livre?

Essa história é parte do desafio do Nanowrimo 2020, e está sob a tag “Aconteceu Comigo”. Os fatos são reais, mas algumas informações foram modificadas para segurança dos envolvidos.

Existem coisas que o dinheiro não compra

Eu podia fazer aquela piadinha, completando o título do post com “para todas as outras existem Mastercard”, mas acho que vocês já devem saber que os posts do NanoWrimo são uma coisa relativamente mais séria do que isso – ou não, depende do meu humor. Mas hoje eu devo dizer que estou bem séria e a história que vou contar também é séria. Já adianto: A moral é o título deste post. E se você discorda que existem coisas mais importantes que o dinheiro, é porque você nunca “perdeu sua vida”, de maneira figurativa, é claro. E eu espero que nunca perca.

Já namorei com um cara no passado. Com boa condição financeira (muito melhor que a minha, diga-se de passagem). Chegou a me pedir em casamento. Resolvemos que devíamos morar juntos. Para alguém como eu, que sempre teve mil e uma dificuldades nessa vida, era uma maneira de unir o útil ao agradável – era uma pessoa bacana (era o que demonstrava à primeira vista), vinha de uma família de classe média alta, com um padrão de vida melhor, e é óbvio que a gente sempre pensa: “Pelo menos dessa maneira eu vou dar pros meus filhos o que eu nunca pude ter”. Vejam bem, isso não sou eu tentando viver no mole, eu trabalhava nessa época. Tinha dois empregos. Mas o que eu ganhava não chegava nem perto de bancar o CONDOMÍNIO do apartamento em que essa pessoa em questão morava, muito menos todas as despesas de uma família. Vejam bem, é a triste saga de se trabalhar como professor no Brasil: Você dá aula os três turnos, chega em casa, planeja aula pros próximos dias, corrige prova, e quando o salário cai na conta… você ri porque mal dá pra se alimentar. Quem consegue vencer nessa profissão são poucos, notadamente os que tem doutorado e dão aula no ensino superior, concursados. Mas isso é assunto para outro post.

Ele, no entanto, faturava com UM projeto meu salário do mês inteiro. O que levava pra ele somente algumas horas – se muito complicado ou com algum cliente mais chato – um ou dois dias. Vejam a disparidade. O ponto é, naquele momento, eu, na minha ingenuidade, pensei. “Dinheiro me trará felicidade”, “Dinheiro me trará prosperidade”, “Dinheiro resolverá meus problemas”, “Dinheiro pode curar parte das minhas feridas”.

E eu não podia estar mais enganada.

Começar a morar junto foi um engano terrível. Não nos davámos bem sobre o mesmo teto. Eu mudei de emprego, e então estava trabalhando de 7 da manhã até 17 horas. Em pé. Correndo atrás de crianças. Era assistente de professora. Era um emprego no qual eu ganhava mais do que nos anteriores. Mas todos os dias, enquanto eu estava no ônibus de volta para casa, eu chorava enquanto olhava a “paisagem” da Avenida Paralela. Aquele choro silencioso e quase inexistente – nunca fui de ter muitas lágrimas mesmo – mas ele estava ali. Durei exatos um mês no emprego. Nunca saí de um emprego tão feliz quanto saí deste. Único dia que voltei para casa com a minha carta de demissão como se fosse minha carta de alforria. E, ao chegar em “casa”, fui recebida como? Com desdém. “Já perdeu o emprego? Mas você não sabe que é mais fácil conseguir um outro emprego estando empregada?”

Durante esse mês que eu trabalhei fora, as coisas começaram a se tornar insuportáveis em casa também. O vício em computador do cidadão em questão era fora dos limites – isso porque eu fui condicionada a minha vida inteira a acreditar que eu era viciada! – Ou seja, mesmo ficando em casa o dia inteiro e fazendo nada na maior parte do tempo, ele reclamava da louça suja, e quem precisava lavar quando chegava era eu. Não me levem a mal. Mas depois de dez horas em pé e de pelo menos umas 13 ou 14 fora de casa, a última coisa que você quer pensar é em… lavar louça quando você tem trabalho a ser feito pro dia seguinte, e ainda precisa acordar às 4 da manhã, especialmente se você não mora sozinha. (Tenham em mente: Eu chegava em casa por volta das 19~20 horas, dependendo do engarrafamento do dia)

Mas as coisas não pararam por aí. O barulho de determinado app do meu celular incomodava ele, porque lhe dizia que eu estava falando com a minha melhor amiga da época: alguém de quem ele tinha ciúmes sem parar. Eu é que não podia ter ciúmes dos amigos e amigas dele, ai de mim. Eu tinha que entender que ele tinha uma vida antes de me conhecer (mas eu não tinha! isso era inaceitável hahaha – entenderam onde mora o perigo?)

Eu não tinha mais ânimo para escrever. Não tinha mais ânimo para assistir séries. Eu estava morrendo por dentro. E para mim, o ponto final da morte foi quando eu precisei pedir permissão para ir num evento literário com a minha mãe, já que ele não queria ir, e a permissão me foi negada. É, é isso que vocês leram. A permissão foi negada. Eu estava tão cansada, que aquela relação já não fazia mais sentido para mim. Os presentes que ele me dava não faziam mais sentido para mim. Eu me sentia suja todas as vezes que tínhamos relações sexuais. Estar ao lado dele parou de me trazer conforto e felicidade, e só aumentava a tristeza que havia em mim.

Não há maneira de comprar sentimentos, assim como não se pode comprar felicidade. Não se pode comprar saúde ou bem estar. É impossível comprar bons momentos – eles precisam ser vividos. Até é possível usar dinheiro para que esses momentos se tornem realidade: uma viagem, um cruzeiro, um passeio, uma visita à Disney… mas as memórias anexadas aos bons momentos que você viveu, elas não podem ser compradas. É possível fazer uma viagem e não carregar nenhum bom momento com você dela. Já aconteceu comigo. É possível causar fiascos na tentativa de compra de felicidade.

Se você acha que a sua felicidade repousa num carro, num computador, num celular, num console, numa TV, num fone, numa marca, num bem específico… pense duas vezes. Se você acha que a sua vida vai automaticamente melhorar somente porque você tem boas condições de vida, pense duas vezes. Se você acha que, tendo o melhor plano de saúde, você poderá evitar doenças e viverá melhor… veja quantos milionários, ricos, famosos já morreram. Você realmente acha que eles não evitariam a morte se pudessem? Você realmente acha que eles não queriam ficar ainda mais ricos, em vida? Dinheiro não compra tudo. Existem coisas que você só pode ter, se conquistar. A confiança das pessoas, por exemplo, não pode ser comprada. A amizade verdadeira, não pode ser comprada. O amor, não pode ser comprado. Não importa quanto de dinheiro você tenha, algumas coisas nunca mudam. Aprenda que o único responsável pelo seu bem estar é você mesmo. O dinheiro até pode te ajudar em alguma coisa, pode te trazer algum conforto. Mas ele não pode comprar quem você é e muito menos uma vida perfeita. Isso quem tem que construir é você mesmo.

 

Essa história é parte do desafio do Nanowrimo 2020, e está sob a tag “Aconteceu Comigo”. Os fatos são reais, mas algumas informações foram modificadas para segurança dos envolvidos.

Se existe uma verdade no universo mágico, é que criaturas mágicas amam pão de queijo

Narrador: Era uma noite de lua cheia em que Annie estava novamente vestida em seus trajes de “bruxa”. Na verdade, consistia somente em uma roupa mais confortável do que a normal, um longo e belo vestido que parecia refletir a luz da lua.

Annie: Espero que hoje seja uma noite calma. Estou cansada de ter que lidar com humanos que desconhecem o poder da magia…
Rika: (esta aparece com um macacão cinza e uma blusa azul) Estou atrasada! Estou atrasada! Não acredito que perdi a hora para a noite do pão de queijo!
Annie: (fica aparentemente confusa com a chegada da garota) Minha cara, está perdida? Você falou em… pães de queijo???
Rika: Estou tão perdida, que acabei vindo parar para esse lugar que não conheço. (ela vira-se para Annie) Sim, pão de queijo! Combinei com o meu amigo fazer isso esta noite.
Annie: E como é esse seu amigo? Posso tentar encontrá-lo com o uso de runas… Perai… sempre trago minhas runas (mexe nos bolsos) Onde estão mesmo?
Runas? Você é tipo viking?? Não, você não tem cara de viking. (ela pensa um pouco e pretende responder a outra pergunta) Meu amigo é alto, usa um terno e gravata e carrega um microfone consigo. Todos o chamam de Locutor, por causa disso.
Annie: Não, minha cara. Sou uma bruxa lunar. Ah! Aqui! Minhas runas! Vamos ver…
Rika: Ah! Uma bruxa lunar. Que coisa mais interessante. Suas runas são muito bonitas!
Annie: Obrigada, minha cara… Bem… (olhando fixamente para as runas) Acho que seu amigo se perdeu… também…
Rika: Nossa! Ele se perdeu também? Aquele Locutor! Sempre desconfiei que ele não era tão bom assim em tudo.
Annie: Sim, deixe-me ver… (A garota começa a falar umas palavras em língua mágica e abre um portal com o amigo de Rika) Pronto, acredito que trouxe a pessoa certa!
Rika: Não, esse não é o Locutor. É a fada Matilde.
Matilde: Que ótimo! Eu sou uma interferência mágica.
Annie: Ops… Acho que minhas runas não estavam tão certas… (coça a cabeça pensativa) Bem. Prazer, pessoal, eu sou a Annie, uma bruxa lunar… deixe-me tentar resolver esse problema…
Matilde: Ah, você é uma bruxa lunar?
Rika: Eu sou Rika! É muito bom conhecê-la, Annie.
Matilde: Dificilmente vejo bruxas lunares. Sou a Matilde, como a garota já falou.
Annie: Sim, sou uma bruxa lunar! Ainda estou me acostumando com a tarefa. Nem sempre faço a coisa certa, pelo visto (ri, meio sem graça) Mas vou tentar consertar
Matilde: Tudo bem, não há problema algum, minha cara Annie (ela tenta sorrir para não parecer intimidante) Você vai conseguir consertar… Seja lá o que for que você queira consertar.
Rika: Não se sinta desencorajada!
Annie: Vamos lá, vamos tentar novamente… (ela pega as runas outra vez e se concentra, abrindo um portal) …Talvez… agora?
Matilde: Não, minha querida Annie. Tudo que você fez foi causar a Rika uma transformação de moda.
Rika: (olha para a fantasia) Eu sou uma fada, agora? Minha nossa! Calma, na próxima você vai conseguir.
Annie: Céus! Desculpe! Acho que essas asas não devem funcionar muito bem, não recomendaria usá-las… Acho que o melhor meio de resolver isso, é sem magia mesmo. (pega um alto-falante) LOCUTOR, ONDE ESTÁ VOCÊ??????
Matilde: Boa escolha de solução, Annie.
Rika: Olhe só! É o Locutor chegando! Cadê meus binóculos… (tira do bolso o seu binóculos) É ele mesmo! Você conseguiu, Annie! Parabéns.
Annie: Nada como usar um bom e velho alto-falante! (ri) Bem, acredito que agora podemos todos comer pães de queijo. Digo, se não se importarem com minha companhia!
Rika: Claro que não! O Locutor com certeza não vai se incomodar. Não é, Locutor? (ela e Matilde se viram para o personagem que acaba de chegar)
Locutor: Olá! Eu não vou me incomodar de fazer o quê?
Locutor: Ah! Não há problema algum, é claro. Quanto mais gente melhor (olha para as fadas) Isso inclui a fada Matilde e a fada Lily, é claro. Não há problema algum!
Rika: Ufa, ainda bem. Fadas AMAM pão de queijo.

Narrador: E desta forma, todos foram felizes comer pão de queijo ao luar. Um excelente final feliz, não é mesmo, meus caros?

 

 

História escrita em conjunto com a Moon! Obrigada por sua participação aqui no Nemuritai!