Flashback – No Mundo das Fadas
Lily: É hoje o dia, então? (acordou, olhando para o seu calendário de sobreslaio, querendo confirmar algo que já sabia há muito tempo)
Narrador: Há algum tempo, era comum que todas as fadas fossem escolhidas para terem uma espécie de profissão. Haviam as fadas-madrinhas, as fadas que concediam desejos a qualquer um, as fadas encantadas, as fadas que cuidavam de outras fadas, e as que governavam o mundo das fadas. Cada fada era escolhida conforme suas habilidades. As fadas-madrinhas, por exemplo, tinham habilidades com crianças. As encantadas, com encantos e diversos tipos de magia. As cuidadoras, como o próprio nome indica, cuidavam das coisas. E as governantes, normalmente eram as que tinham a característica de liderança mais acentuada.
Lily: (penteou seus cabelos roxos calmamente, decorando seu cabelo com uma presilha de borboleta) Me pergunto de que tipo eu serei… (abriu a porta de casa, e, voando, se dirigiu ao local onde várias outras fadas de sua mesma idade esperavam)
Narrador: Havia uma fada para qual todas se curvaram em respeito. Sra. Aine DeLaFairy, a atual responsável pela administração da Escola de Fadas. Após terminarem todo o currículo, passavam por essa escolha antes de poderem se graduar. Afinal, era necessário que a fada em questão demonstrasse ter além da habilidade “teórica”, observada durante todo o período de estudo, ter a habilidade prática antes de poder receber o certificado de fada habilitada. Era ainda mais necessário para as cuidadoras e as fadas-madrinhas, as quais, sem licença, jamais poderiam exercer suas funções. Sra. DeLaFairy chamava cada uma cadas fadas, uma a uma, e lhe entregava uma missão. A fada em questão tinha vinte e quatro horas para retornar com a missão cumprida, ou declarar que não era capaz de cumprí-la. No segundo caso, se a fada demonstrasse uma segunda habilidade, seria testada nesta também; caso contrário, deveria fazer um ano suplementar na Escola de Fadas antes de tentar novamente o certificado de fada habilitada.
Atualmente
Aya: Lily? Lily? Você está bem?
Lily: (parada olhando para o nada como se recordasse de alguma coisa) Hã, sim.
Aya: Eu te perguntei que tipo de fada você era… e você não me respondeu coisa alguma…
Lily: Aya… É complicado… No Mundo das Fadas temos um sistema… Difícil…
Aya: Quando nos conhecemos você me disse para te chamar de fada-madrinha. Você… é uma fada-madrinha, Lily?
(silêncio)
Lily: Eu devia ser (se levantou abruptamente) Mas falhei duas vezes no teste da Escola de Fadas, e portanto, nunca pude ser fada-madrinha de nenhuma criança, não oficialmente. Quando eu conheci você, achei que era uma criança. Não queria que tivesse medo…
Aya: Você não passou? Mas é tão inteligente…
Lily: O nível de inteligencia necessário para se passar nos testes da Sra. DeLaFairy estão muito acima de minha capacidade []
Aya: Não diga isso, Lily. Por que não tentou de novo?
Lily: A cada nova tentativa, você precisa cursar mais uma vez um ano preparatório na Escola de Fadas. É como se eles tentassem te ensinar todas as vezes a mesma coisa. Mas os testes dela não tem teoria, somente prática, Aya… Na primeira vez fui enviada para ser co-madrinha de um garoto mimado por 24 horas. A ideia era ver se eu conseguia não fazer o garoto chorar, mas ao mesmo tempo, não ceder a algum pedido que violasse as regras mágicas. Falhei. A segunda vez, eu deveria cuidar de uma garotinha até que adormecesse, sem ser vista. Às vezes, temos que agir sem sermos reconhecidas… Mas não consegui, também… (abaixou a cabeça) Então, não sou uma fada certificada para “trabalhar”. Bom, sobra mais tempo para mim, é verdade, mas…
Aya: Mas…?
Lily: Não, vamos falar de outra coisa! Isso já passou e não importa mais! (sorriu) Podemos ir ver a Annie, o que acha? Acredito que ela vá ficar feliz em te ver num dia em que ela não está te esperando para mais uma daquelas lições intermináveis
Aya: As lições da Annie são até bem didáticas, Lily!
Lily: Eu sei, eu sei, eu só estava brincando! Vamos lá?
Narradora: Mas Aya ainda levava em sua mente as palavras que Lily lhe dissera. A garota lhe parecia uma excelente guardiã, e ela sequer era humana… Não conseguia ver porque a garota não conseguira passar num teste para ser guardiã de humanos… Até porque Lily era tão sábia, inteligente e divertida que qualquer um iria querer tê-la como fada madrinha. Como alguém podia expulsá-la? Parecia algo tão maldoso e… ruim de ser feito… Se pudesse, convenceria Lily a fazer mais um ano, a tentar o teste novamente. Mas a garota já parecia decidida. Parecia conformada com sua vida. É claro, aquele “mas”, deixado ali, indicou à Aya, que era experiente nisso, por já ter viajado por diversas eras, que ela sentia falta de algo. Ainda assim, ela parecia conformada o suficiente para não falar daquilo, e não querer sofrer mais pelo passado. Sofrer pelo passado. Se perguntava o que mais havia se passado nas vidas das pessoas que agora tinha conhecido. Aya, que estava acostumada a viajar no tempo e viver as situações, e corrigir os acontecimentos, e ajudar a quem quer que fosse, por um instante se sentiu incapaz de ajudar. Seu artefato quebrado, que nem saberia se funcionaria pelas bandas desta dimensão em que estava… Ah, como era difícil! Saber que tinha conhecimento suficiente para consertar tudo com uma simples viagem e não poder realizá-la… Mas percebeu que estava divagando demais e que não havia respondido ainda. Então, deixou sua corrente de pensamentos para trás, e sorriu com o maior dos sorrisos que uma garota com aparência de pré-adolescente poderia dar, antes de dizer um grande e animado “Vamos!”, e seguir com Lily em busca de Annie.